Estou me apegando a todos os santos e
mandingas pra fazer esse texto pegar no tranco. Sorte que não sou um mecanismo
digital ou hidramático, o que significa que um bom empurrão faz algum efeito
sobre uma bateria exaurida. No caso, a minha.
Daqui a pouco ninguém mais vai saber do
que trata essa metáfora automotiva do milênio passado, eu sei. Como também sei
que estou, de novo, passando por aquele momento “se não tenho nada pra acrescentar,
o melhor é calar”.
Só que essa hipótese pode trazer um
prejuízo irrecuperável à regularidade das crônicas do Sem Fim. Queria que esse
fosse o dilema atual da escrevinhadora. Só que não é. Os motivos das últimas
rateadas são mais prosaicos.
Depois de eleger as areias das praias
cariocas como espaço/tempo para desenhar as sempre mal traçadas linhas das
páginas de muitos caderninhos - primeiro, na Ponta de Leme, de onde sou cria,
há décadas atrás e, mais tarde, no paredão do Arpoador ou na sempre invisível
Praia do Diabo, saí procurando outro paraíso que estimulasse, se não minha
imaginação, ao menos meus vastos e inconstantes pensamentos catapultados pelo
oceano de informações que, hoje, chegam a qualquer lugar pelas ondas indomáveis
da Nazaré das redes sociais.
É justamente esse tsunami e todos os
rejeitos que ele produz em sua rota de destruição que acaba provocando uma
inversão na dinâmica de produção de conteúdo.
Em vez de garimpar pepitas brutas
escondidas nas dobras do pensamento que chegam com as marés somos obrigados a
virar catadores nos lixões irregulares transbordantes de chorume, com espumas
de tolices, gosmas de sandices e dejetos movediços de horrores que nos impedem
de depurar sentimentos, “dexavar” ideias, burilar conceitos.
Somos movidos por efemérides pré-estabelecidas
e teorias rasamente concebidas por algoritmos gerados e comandados pela... inteligência
artificial.
Aquela que dita regras como a de que “temos
que ter um nicho” de ação na rede, por exemplo. Postar várias vezes ao dia,
outra exigência. Ter uma “comunidade”, mais uma. Mostrar a cara. Expor sua
rotina...
Estou lascada já na largada para esse
“salto mortal digital” com esse meu complexo de senzala, como diz meu pai, que
me impede de obedecer a qualquer regra ditada por sei lá quem quando era gente
e o que pra IA que nos comanda e nem ser humano é. Sempre fui guiada por uma
força estranha que me impede de ter amo e/ou senhor, como dizia o samba do
Paraíso do Tuiuti de 2018. Não à toa um dos meus codinomes era “rebelde”.
Não foi por falta de tentativa de fazerem
da minha, uma vida mais fácil nesse mundo que já não existe mais. Mundo esse, em
que a individualidade tinha algum valor e bastava que essa chama fosse sempre
(bem) alimentada com o conhecimento que gerasse argumentos para resistir ao
assédio do mais do mesmo.
Dancei. Ou não, porque nem assim sucumbi
e me orgulho de seguir pensando e expondo meus delírios nos últimos 20 anos.
Meu problema é com uma consequência
dos ouvidos moucos feitos por todos os que, voluntariamente, ou não, ignoraram
todos os alertas sobre as mudanças do planeta. Sim são eles, já cantados por Jorge
Mauter e Nelson Jacobina no século passado: os mosquitos!
Especificamente o Aedes que transmite
Zika, dengue, Chikungunya e, desde sempre a febre amarela, agora adormecida.
Doenças virais capazes de tocar horror no sistema de saúde e exponencializar meu
impedimento de uma produção literária sacralizada.
Eles mordem! E, cá entre nós, não se
assustam mais com DDT, sprays e receitas caseiras de proteção. Estão dando de
mão e comandando o jogo da saúde popular. E da minha crônica. Foi uma mordida
no joelho repleto de creme protetor fedorento que me fez, mais uma vez, fechar
o caderninho e dar por encerrado esse texto.
Mas só esse. Porque, assim como posso
ignorar a ditadura artificial, serei capaz de mudar meu ritual e seguir
falhando, mas entregando os rabiscos e fotos que registram meu tempo e o que
vejo no planeta.
Ah, cronista enclausurada. Se humano
fosse diria que estou com... saudades. Ausente por tantas luas sinto falta da
nossa correspondência unilateral já que cabe a mim, Pluct Plact, o
extraterrestre, manter esse monólogo noticioso com você que escolheu se isolar
voluntariamente nessa cela do outro lado do túnel.
Pra falar a verdade andei suave na
nave do abandono da amiga pois tinha certeza que solita você não esteve.
Afinal, os últimos meses foram aqueles que mantém o fio terra que a liga
(ainda) a esse mundo fantástico, o do carnaval. Acho que senti sua energia
oculta enquanto, do alto do
Arco da Apoteose, na dispersão, apreciava o desfile das escolas de samba na
Marquês de Sapucaí.
Essa foi, inclusive, uma das razões
que evitei usar nosso canal de comunicação, o raio da luz da lua que entra pela
janela e banha sua cela de reclusa. Vai que alguém sentisse o movimento,
resolvesse dar uma espiada e, descobrindo sua ausência, desse o alarme do
desaparecimento da amiga? Resolvi não arriscar e acho que fiz bem.
Estou tão quase humano que, como eles
já tenho desculpas pra tudo, mesmo que impossíveis. Andei aperfeiçoando essa
característica que, pessoalmente (olha eu “pessoa”) não considero uma
qualidade, acompanhando os últimos acontecimentos aqui da Terra onde, pra
variar, pululam as guerras. Outro bom argumento para deixa-la livre, leve e
solta nos preparativos e durante a folia. Sabe lá como será o próximo carnaval?
Se me preocupei com alguma coisa foi
com sua condição física precária para aguentar as idas e vindas na extensão da
avenida. Fiscalizei a retirada de vários componentes estendidos nas macas
pilotadas pelos heroicos maqueiros encarregados de percorrerem a pista
escoltando e carregando quem não resistia a travessia e desabava no asfalto nos
dias de desfile.
Cronista, que coisa incrível a reação
dos acudidos. Sofriam por males físicos, é verdade. Também pela impotência de
seus corpos que não aguentavam a sobrecarga do esforço de carregarem fantasias
tão elaboradas, mas... na maioria, em suas áureas, havia sempre uma cor da
alegria, do prazer a todo custo. Sei que você não vai perguntar “Como assim?”
porque sabe do que estou falando. Sim, eles tentaram. Podem não ter conseguido
chegar aos pés da Apoteose para comemorarem seus 40 anos de existência, mas
fizeram por merecer o sonho parcialmente realizado.
Como você, estar ali era mais importante
que o espaço exíguo em que habita e, portanto, limita uma preparação física
adequada. Como você, eles, todos eles, perdem a noção do perigo quando o ritmo
do coração se mimetiza com a batida dos surdos. Como você, incorporam uma força
maior que tem origem incerta e não sabida, capaz de leva-los ao extremo. Do
amor, da entrega e da felicidade que se renova a cada carnaval.
Carnaval? Falei em carnaval? Jurei
que esse não seria o assunto em pauta. Como a maioria das atitudes humanas que adotei
desde minha chegada a esse pouso involuntário por não poder ultrapassar com
minha nave essa camada poluente. A que irá, em breve, sufocar o planeta e seus
habitantes, sejam eles minerais, vegetais ou humanos. Isso não é uma previsão,
é uma certeza. Pedra cantada, você diria, no bingo da evolução universal.
Trazendo o assunto para seu modus
vivendi (latim, querida, língua quase morta mais viva do que nunca por dela
tantas serem oriundas), exemplifico com a antigamente gélida temperatura da
água do mar que tanto atrapalhava a permanência no seu tempo de pegar jacarés
no Leme e no Arpoador. Foram as águas oceânicas mais quentes já registradas.
Aliás, o planeta está batendo recordes de calor mês após mês.
Ruim para os humanos que inertes não
parecem se dar conta do tamanho do problema. Bom para os mosquitos que
proliferam a rodo.
É como se o “país tropical” fosse
mais que letra de música. Se agarram ao verso seguinte, o “abençoado por Deus”,
sem entender quer a natureza não está nem um pouco satisfeita com o conjunto da
obra e vai responder à altura. Não há mais tempo para ação. Como na Sapucaí, as
saídas laterais de emergência estão obstruídas. Só há passagem no início ou no
final da pista. É rezar para o pior não acontecer agora. Só depois que o bloco
dos insensatos passar.
Adivinha? Apesar das previsões de
Esmeralda, a cigana leopoldinense em busca do bicampeonato, os búzios do jogo caíram
todos abertos do outro lado da ponte, em Niterói. Assim estavam os caminhos da
Viradouro em seu desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval 2024,
o dos 40 anos do Sambódromo.
Leandro Vieira esteve próximo da
vitória durante 24 horas. A escola de Ramos foi a última a desfilar no raiar do
primeiro dia de disputa. Manteve o favoritismo até a madrugada seguinte quando as
guerreiras voduns do carnavalesco Tarcísio Zanon se apossaram da Marquês de
Sapucaí. Não teve pra ninguém. Nem na bolha carnavalesca das redes sociais, nem
na leitura das notas dos jurados. A escola terminou com um ponto à frente da
vice-campeã.
A luz do amanhecer valorizando o conjunto alegórico da Imperatriz
Ambas se valeram da luz do amanhecer
para emoldurarem seus vaticínios e enriquecerem as palhetas de cores dos
enredos. A luz cenográfica, turbinada por tintas e tecidos fluorescentes, mudou
o visual do espetáculo. A novidade escondeu ainda mais o povo do samba, já
mascarado por efeitos de maquiagem. Também derrubou quem não soube utilizar os
recursos.
Brasilidade tropical explícita na Mocidade.
Foi a ambientação, por exemplo, que
penalizou a Vila e a Portela na apresentação dos casais de mestre-sala e
porta-bandeira. No caso da Vila com um agravante. Paulo Barros depois de tocar fogo na
porta-bandeira Lucinha Lins tempos atrás na Mocidade e, ano passado, vestir o
casal na pista, apagou a apresentação do pavilhão e colocou no lugar lasers
multicoloridos acoplados nas vestimentas do casal da terra de Noel Rosa. Perdeu
décimos preciosos, junto com o samba de Martinho da Vila(!) e o enredo de
Oswaldo Jardim.
Maria Bethânia pede passagem. Homenagem a Alcione na Mangueira.
As justificativas exporão os critérios
dos julgadores que deixaram de fora das campeãs a Mangueira, homenageando Alcione
(perdeu no quesito de desempate, fantasia, a sexta posição), a Beija-Flor com Maceió,
e acharam cica no caju tropical da Mocidade em vários quesitos incluindo o
enredo, tão original, e... o samba! A Porto da Pedra teve passagem fugaz pelo
Grupo e volta para o Ouro de onde sobe a campeã Unidos de Padre Miguel.
DESFILE DAS CAMPEÃS – Vila, Portela,
Salgueiro, Grande Rio, Imperatriz e Viradouro.
Na Vila, só alas de comunidade, o chão de Noel.
A reedição da Vila de "Gbalá", enredo de Oswaldo
Jardim de 1993, abre a noite das Campeãs trazendo o axé das crianças salvando o
planeta ao realimentar as energias de Xangô ao som da bateria de Mestre Macaco
Branco e o lindo samba de Martinho da Vila canetado em 2 décimos.
O tempo passa, o “defeito de cor” permanece. Marinete Franco e outras mães relembram suas dores.
A Portela a volta às campeãs depois de
ficar de fora no ano de seu centenário. O enredo “Um defeito de cor” conseguiu
mais um recorde carnavalesco. O livro de Ana Maria Gonçalvez se esgotou na
gigante Amazon! Que rapidamente repôs o estoque do fenômeno literário.
Vida na tribo Yanomami, janela aberta para o mundo pelo Salgueiro
O Salgueiro é a primeira das três
agremiações que desfilaram na noite de domingo a retornar a avenida. “Hutukara”
trará de volta o casal Marcella Alves e Sidcley. Assim como os casais da Imperatriz,
Grande Rio e Mangueira, eles gabaritaram no quesito mestre-sala e
porta-bandeira. Dos quatro, o único que não se apresenta no sábado é Cintya
Santos e Matheus Olivério, da verde e rosa.
A onça da Comissão de Frente da Grande Rio
Na Grande Rio,
com “Nosso destino é ser onça”, a proposta de Gabriel Haddad e Leonardo Bora
teve um bom desempenho nos quesitos plásticos inovando novamente nos materiais.
A clareza do enredo, o samba e harmonia não deixaram a onça beber a água de
mais um campeonato. Destaque aos felinos da alegoria da comissão de frente e o
de Paola Oliveira, reinando na bateria.
A Imperatriz Leopoldinense, última
escola a desfilar no domingo planejou seu desfile para o amanhecer. Vamos ver
como as criações de Leandro Vieira se comportarão na luz noturna. Tomara que
seja fixa, ou se altere suavemente. Os recursos do neon e da fluorescência acabarão
cansando. Não precisa de búzios nem bola de cristal para chegar a essa
conclusão.
Rute Alves e Julinho Nascimento, o casal campeão
A Viradouro encerra o sábado das
campeãs, comemorando merecidamente seu terceiro título com “Arroboboi,Dangbé”
e dando uma aula sobre a serpente, símbolo da vida, regeneração e recomeço nos
cultos voduns vindos da Costa da Mina, na África. Uma aula. Mais uma lição das
escolas de samba da cultura popular brasileira.
O desfile das Campeãs do RJ será transmitido no sábado, no
Multishow a partir das 21:30h, horário de Brasília.
Uma série de muitas temporadas passa pela cabeça de quem
testemunhou a revolução que a obra arquitetônica (construída em 120 dias pelo
governador Leonel Brizola, incentivado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e criada
por Oscar Niemeyer no berço do samba carioca), produziu na manifestação que se
transformou num dos maiores espetáculos de cultura popular da Terra. O desfile
das escolas de samba da elite do carnaval, ano após ano, alcança milhões de
espectadores ao redor do planeta.
A pista da Passarela do Samba é caixa de ressonância de temas explorados
pelas agremiações em seus enredos trabalhados por meses a fio pelas comunidades
da
região metropolitana envolvidas na preparação da f(r)esta.
Paola Oliveira precisa de legenda?
Nesse período, que virou o século e ultrapassou o milênio, quantas
vezes se decretou que “o samba sambou”? A festa se renova e adapta aos novos
tempos. Incorpora tecnologia, quebra
barreiras de modismos e se ressignifica conforme a dança enquanto luta heroicamente
para não perder sua essência, preservar a ancestralidade e preparar os futuros
sambistas.
Furando a bolha - Entre muitas tentativas de atrair a
atenção das novas gerações com o incremento de ações de marketing, que
incluíram o lançamento das latinhas de cerveja homenageando as agremiações e a
aposta maciça em conteúdos nas redes sociais, o que acabou sendo o agente
catalizador que marcará o carnaval de 2024 e explodiu, como há muito tempo não
se via, no pré-carnaval foi... um samba!
Campeã nas paradas de sucesso desde o réveillon, a composição
canta as qualidades de um produto tipicamente brasileiro, o caju. Defendida
performaticamente por Zé Paulo Sierra, exalta a fruta tropical e a irreverência
numa letra cheia de picardia que tem, entre seus autores, o humorista Marcelo
Adnet. O refrão chiclete da Mocidade Independente de Padre Miguel caiu na boca
do povo pelo país afora!
Ensaios técnicos - Foi o caju que botou a Sapucaí para
cantar já na abertura dos ensaios técnicos dos finais de semana de janeiro realizados,
pra variar, em meio as chuvas que castigaram o Rio. Justiça seja feita: as
tempestades que fecharam, por exemplo, a principal artéria metropolitana, a
Avenida Brasil, não alagaram a Marquês de Sapucaí. Sinal que esse ano o dever
de casa foi feito com antecedência e o sistema de drenagem de esgotos do local
previamente limpo. Os sambistas molhados, mas não empoçados, agradecem!
Parangolé cenográfico - Na missão de se adequar às exigências
das transformações tecnológicas de produção de mega espetáculos vamos para o
terceiro ano de implantação da iluminação cênica da pista. Assim como na
questão do gigantismo das comissões de frente, ainda não há unanimidade na
utilização dos 570 refletores e todo o caríssimo aparato envolvido.
Nem todas as escolas vão aderir a utilização dos recursos disponibilizados. Caso da
campeã de 2023, a Imperatriz Leopoldinense. Seu carnavalesco, Leandro Vieira,
foi protagonista de uma das polêmicas pré-carnaval nas redes ao afirmar que a
luz privilegia os carros alegóricos, mas esconde os sambistas e as fantasias
criadas para contar o enredo.
Cig(Bai)anas da Imperatriz, o bi traçado na palma da mão?
Nos intervalos entre os desfiles a ambientação do sistema de
iluminação deixa a pista parecendo “casa da luz vermelha”. Aquelas das
currutelas do sertão profundo. Cansa. Vamos combinar que sua melhor utilização
foi justamente quando ela se apagou, no ensaio técnico do Salgueiro, para que
os vagalumes/lanternas dos componentes passeassem pela penumbra da floresta Yanomami
do enredo Hutukara.
A fila anda e o que foi revolucionário há 40 anos ganha novos
contextos. Algumas intervenções são absorvidas, outras ficam na pista. A nova
geração que assumirá os destinos da LIESA, a Liga da Escolas de Samba, implanta
a marca @RioCarnaval. Sob o comando do herdeiro de Anísio Abraão David,
Gabriel, ela repagina a folia e delineia, mais uma vez, o avanço dos camarotes
temáticos sobre as frisas da passarela.
O culto a ancestralidade garante a aposta: o futuro é o samba.
A pista, por enquanto, continua sendo território demarcado do
povo samba. Corpo, voz, consciência e chão da essência de valor incalculável de
uma das manifestações culturais mais relevantes do Brasil.
Domingo
11 de fevereiro
Quem
abre os desfiles do carnaval 2024 é a Porto da Pedra, campeã do acesso. O
carnavalesco Mauro Quintaes aposta no cordel do "Lunário Perpétuo - A profética do saber popular" celebrando seus ensinamentos e desdobramentos com Antônio da
Nóbrega como guia do enredo da comunidade de São Gonçalo.
Também vem do nordeste o tema da Beija-Flor"Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila". Nilópolis chega com sua força máxima, capitaneada por
Neguinho da Beija-Flor, os condutores de seu pavilhão, Selminha Sorriso e
Claudinho, e a força de sua comunidade.
Na pista e nas arquibancadas, o protesto pela proteção aos indígenas
É
"Hutukara" o
grito de protesto do Salgueiro que o carnavalesco Edson Pereira faz retumbar na
Sapucaí sobre a questão Yanomami. A comissão de frente de Patrick Carvalho
promete impactar a plateia. Até o ator Leonardo di Capri já mencionou o enredo
em suas redes sociais. Furou a bolha...
A Grande
Rio em “Nosso destino é ser onça”, de Leonardo Bora e Gabriel Haddad, faz uma viagem antropológica
pelo Brasil profundo. Vamos ver se a onça vem beber água na Sapucaí.
A onça, nossa conhecida, a protagonista do desfile da Grande Rio
"O Conto de Fados" da
Unidos da Tijuca quer revelar em seu samba fadado, com grandeza e encantos,
segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, versos do pequeno imenso Portugal na
voz de seu interprete Ito Melodia.
A Imperatriz Leopoldinense tenta o
bicampeonato e fecha a noite de domingo falando do universo cigano no enredo "Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana
Esmeralda". Sem luz cenográfica,
já que Leandro Vieira pretende usar a luz do nascer do dia para valorizar a
estética de sua proposta.
Segunda 12 de fevereiro
Quem abre a noite é Mocidade Independente com a
sinopse tropicalista criada por Fábio Fabato e desenvolvida por Marcus
Ferreira, “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá”. Já vimos nos ensaios técnicos o efeito
Zé Paulo Sierra e da Não Existe Mais Quente, a bateria de Mestre Dudu, nas
arquibancadas da Sapucaí. Será um sacode. Todos torcem para que essa catarse se
reproduza nos demais quesitos da escola.
Tropicalismo, a aposta estética da Mocidade
“Um Defeito de Cor”,
enredo da Portela, é o ponto de partida de Antônio Gonzaga e André Rodrigues
para criar a carta de Luiz Gama para sua mãe, protagonista do livro de Ana
Maria Gonçalvez. Atenção às bossas da Tabajara do Samba, de Nilo Sérgio, com
toques dos santos e a parceria inédita do casal de porta-bandeira e mestre-sala
Squel Jorgea e Marlon Lamar.
Na Vila
Isabel a reedição o enredo de“Gbalá: uma viagem ao Templo da Criação”, de 1993, criado por Oswaldo Jardim, está sob
responsabilidade de Paulo Barros. Embalada pelo belo samba de Martinho da Vila
que prega que é preciso resgatar o futuro e, para essa tarefa, só as crianças
estão aptas. A Vila já fechou com a equipe atual para o carnaval 2025.
Sou da Vila não tem jeito: o amor declarado do ritmista
A dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão com "A Negra Voz do Amanhã", homenageia Alcione. A cantora é
fundadora da escola mirim Mangueira do Amanhã. Justa homenagem em vida da
comunidade verde e rosa a uma incentivadora apaixonada da Estação Primeira.
A Revolta da Chibata, de 1910, é o
ponto de partida da proposta de Jack Vasconcelos no enredo do Paraíso do Tuiuti,
“Glória ao Almirante Negro!”.
Pixulé puxa o samba de Moacyr Luz e a rainha Mayara Lima coreografa as bossas
da Bateria Super Som, de Mestre Marcão, estandarte de ouro no último carnaval.
Markinhos e Mestre Marcão
Quem fecha os desfiles do Grupo
Especial é a vice-campeã de 2023, a Viradouro. Tarcísio Zanon explora o texto
de João Gustavo Melo sobre uma divindade vodum, “Arroboboi, Dangbé” para, com a bateria
de Mestre Ciça, a Rainha Erika Januza e o novo
reforço Wander Pires, tentar o campeonato.
Viradouro e a divindade vodum cultuada na Bahia
Desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro
Domingo 11/02 - Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio,
Unidos da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense
Segunda 12/02 - Mocidade Independente, Portela, Vila Isabel,
Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Viradouro
Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Sugestão: comentários da Tupi.fm
Agradecimentos à @riocarnaval, Liesa, Riotur e, especialmente, ao povo do samba que faz a festa acontecer.
Mais uma troca de prumo para manter o rumo das crônicas quinzenais. Tive que trocar a pedra em que me encosto para escrevinhar no meio do mundo!
O motivo é prosaico. Ela, a pedra no deck, fica na franja dos galhos da pitangueira que, carregadinha, salpica o chão em que estendo a canga. As frutinhas parecem confetes sextavados... Tentei varrer. O puro suco do sumo das pitangas saborosas virou gotas que lambuzam o chão quando passo a vassoura! Está feita a lambança mancha tecidos. Não prestou. Se não posso mudar a pedra, nem impedir os resquícios da chuva rubra, me movo!
Só um pouco. Para o lado, no beiral da piscina vazia. Por que vazia? Fica fechada até a água clarear por ser de água corrente. O rio ainda está recuperando limpidez depois da enxurrada do segundo sábado de janeiro de 2024. Aliás, os rios daqui e do de Janeiro.
Dei sorte. Passei pela rodovia Washington Luiz, que sobe a serra em direção ao meio do mundo, cruzando entre as duas paredes de chuva. A primeira era só uma parede. Tipo cuiabana de antigamente. Robusta. Cruzamos a chuvarada e chegamos em casa sem problemas para subir a passarela sem cobertura de proteção. No seco. Logo depois veio a muralha d´água. Extensa como a da China. Foram horas de despejo celestial. Vi de camarote a fúria das águas.
As consequências, gravíssimas para a população carioca e da região metropolitana, serão sentidas por tempo indeterminado. O caos foi tão grande que o Centro de Operações da Prefeitura do Rio criou uma base na Pavuna. Com o fechamento da principal artéria carioca, a Avenida Brasil alagada, não dava para monitorar e coordenar os eventos que castigaram a zona norte.
Em décadas de Sapucaí não me lembro de um adiamento de ensaio técnico. Aliás, também não me vem à memória uma escola ganhar ensaio técnico extra na Sapucaí.
Aconteceu uma semana antes do cancelamento das passagens da Portela e Unidos da Tijuca, no último domingo. Vai ter caju da Mocidade em dose dupla por causa das falhas no carro de som do primeiro final de semana de apresentação para o povão. A Porto da Pedra, que teve menos problemas, dispensou o repeteco.
Por que estou contando isso? Para dizer que "se fosse fácil, alguém já tinha feito" e deixar o registro desses acontecimentos da crônica carnavalesca de 2024.
Resumindo: depois de uma largada triunfal dos ensaios técnicos do carnaval 2024 (mesmo com os problemas de som), babou legal e vai acavalar. Matematicamente falando, um quarto do planejamento dos eventos de preparação carioca na Passarela do Samba da Marquês de Sapucaí, que completa 40 anos, foram alterados por motivos variados de forças maiores.
Mocidade vem na matinê do Paraíso do Tuiuti e do Salgueiro no domingo do feriado meia boca de 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade Maravilhosa. Quem ia desfilar no ensaio adiado irá para o próximo domingo. Portela e Grande Rio.
No último final de semana, o do teste de luz e som, teremos uma prova de resistência com a lavagem da pista (nem vou lembrar que costuma chover), Grande Rio, Beija -Flor e Vila Isabel no sábado. Mangueira, Viradouro e Imperatriz fecham os ensaios técnicos no domingo que antecedem o carnaval.
Como trabalhar desse jeito? Se estava ruim para mim, imagina para o povo do samba que se desloca para sambar, precisa voltar à casa e estar a postos segunda de manhã no trabalho.
São verdadeiros heróis da folia! Molhados, não é? De chuva (de vez em muito), suor e lágrimas. Essas, de amor e emoção, brotam no ritmo das batidas e bossas das baterias que explodem na pista entre as atrações dos mega camarotes. Entendeu? Pois é.
Tudo para coadjuvar no desfile é cada vez menos acessível a quem faz a festa. Os preços dos lugares estão nas alturas. A maioria das escolas não tem mais fantasias disponíveis. Lotação esgotada!
Se você não se preparou com antecedência vai como der. Uma sugestão? Tome logo a vacina da Covid disponível. Prevenir é tudo para quem quer fazer desse, como eu, mais um carnaval inesquecível.
PS: Tem massa de ar frio vinda do sul. Pode ser (ou não) que ela chegue no Sudeste no final de semana.
Eparrei, Iansã...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com