Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA

23 de out. de 2025

Paz na terra, crônica de Valéria del Cueto



Paz na terra

Texto e foto  Valéria del Cueto

Querida cronista. Estou há dias alinhavando as últimas novidades para atualizá-la nos acontecimentos aqui de fora. Está difícil!

Tenho parte da responsabilidade no atraso e não nego. Porém, outros fatores aumentam a dificuldade de resumir tantos eventos nas poucas palavras que consigo enviar pelo raio de luar que ilumina sua cela.

Esse seu exílio voluntário do outro lado do túnel, cá para nós, torna nossa comunicação mais difícil e complicada que a ausência de um simples whatsapp, o meio de comunicação que, diz a lenda, mudou a maneira dos terráqueos se comunicarem.

Agora é costume usarem as redes sociais para tudo, inclusive comunicados oficiais, bate-bocas e DRs entre os governantes! Aí começa minha dificuldade plucplacteana de extraterrestre interplanetário ainda preso nesse mundão por problemas propulsores na minha nave viajante.

Pelo tempo de seu exílio sinto lhe informar que invertemos nossos papéis. Você, que me ensinou de um tudo quando caí sem paraquedas cultural aqui na Terra, me nutrindo de conhecimento popular e informações que permitiram minha sobrevivência no planeta de maneira menos traumática, se resolvesse abandonar seu refúgio voluntário, precisaria de aulas intensivas para se readequar ao cotidiano do lado de cá!

São essas instruções que gostaria de deixar em nossa intermitente correspondência. Não dá! Precisaria de muitas luas, dezenas ou até centenas de raios do luar que banham sua cela para prepará-la para sobreviver minimamente por aqui. E isso não seria tudo. Conhecimento é vida, mas a necessidade de um intenso preparo psicológico para segurar sua onda seria essencial!

Quase nada no pedaço é como antes e isso, certamente, mexerá profundamente com seu emocional. Aquele que você tenta valentemente preservar neste isolamento.

Para ajudar nesse sentido, tenho trocado algumas impressões com suas sobrinhas. A Luisa, no quesito psicológico, e a Natália, na parte de equilíbrio mental e corporal.

Caso não tenha registrado, as meninas viraram mulheres. Luluca é psicóloga e Nat acupunturista. Vai se formar em fisioterapia após largar de mão, depois de terminar, o curso de línguas estrangeiras para relações exteriores. Dos idiomas persiste no estudo do mandarim. Tudo a ver com a medicina chinesa a que se dedica.

Você vai precisar desses apoios para manter sua mente e seu corpo sãos. Pode ter certeza!

Já sei o que vai dizer. Que essa cartinha está com cara de abandono. Talvez sim. Mas garanto que não será voluntário, como seu exílio. Acontece que a maré não está para peixe, nem o céu é mais do condor.

O presidente dos EUA que se dedica a uma perseguição implacável aos imigrantes em seu território (como os nazistas caçavam os judeus e outras minorias nos tempos da segunda guerra) expandiu suas atividades bélicas aos mares internacionais. Bombardeia navios e barcos de pescadores. Sem direito a defesa! Alega, sem provas nem julgamento legal, o transporte de drogas para seu país.

Na Europa, drones interferem nas operações de aeroportos de vários países enquanto ataques da Rússia contra a Ucrânia prosseguem sem perspectivas de paz apesar do encontro, com direito a tapete vermelho no Alaska, dos que se acham donos do mundo. O resultado do rapapé foi nulo. A guerra continua...

Sim, amiga cronista, no meio desses tiroteios corro sérios riscos no céu, na terra e no mar. Por isso procuro uma rede de proteção para sua sobrevivência e sanidade. Sei lá, não sei do meu, antes quase tranquilo, futuro de viajante errante.

Não quero terminar essa missiva pra baixo. Trago a notícia de uma trégua na Palestina. Mais uma vez estão na primeira etapa da tentativa de uma paz negociada depois de Netanyahu arrasar e devastar a Faixa de Gaza. Mas não se anime!

No momento estão trocando reféns e prisioneiros. Para variar, os primeiros têm nomes, sobrenomes e histórias. Já os palestinos são apenas números despejados na terra destruída, sem direito sequer a entrada massiva de alimentos e apoio médico para a população atingida pela barbárie incontrolável.

A ação foi na medida para alimentar a pretensão do “King in América” a almejar o Prêmio Nobel, indicado pelo algoz do Oriente Médio. Só que... o pleito delirante não colou.

A laureada foi María Corina Machado “pelo seu incansável trabalho em promover os direitos democráticos pelas pessoas da Venezuela e pela sua luta para atingir uma transição justa e PACÍFICA de uma ditadura para a democracia”.

María Corina dedicou o prêmio a quem? Ao povo de seu país e ao presidente Trump, o que tem enviado navios militares à costa venezuelana e adota a estratégia de explodir barcos que os EUA “considerem” levar drogas ao território americano.

O primeiro Nobel sul-americano foi para quem incentiva ações belicosas, cronista. E, justamente, o Nobel da Paz!

Desconfio que o criador da honraria deva estar se revirando no seu túmulo sueco em Estocolmo...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

8 de out. de 2025

Nem sempre ganhando... - crônica de Valéria del Cueto


Nem sempre ganhando...

Texto e foto  Valéria del Cueto

Hora de parar o mundo para dizer a que vem aí. Mais uma crônica! Só assim tenho o estímulo necessário à escrevinhação, como sempre, no caderninho. Tenho prazo, espaço e vontade de exercitar o direito de dizer. Falar de quase nada no meio de muito tudo não é fácil.

Me desligar de tanta informação eu até sei. Mas nem para você, leitor, nem para mim - que do meio do mundo vejo o dito cujo se exaurindo em conflitos, dores e muito, muito desamor-, a tarefa é simples.

Sei que existem os que, como eu, perplexos diante de tanta brutalidade, ainda procuram formas de, mesmo que indiretamente, interferir no rolo compressor que parece incontrolável, movido pela maldade humana. Atualmente, pra piorar, turbinado pela força motriz generativa da inteligência artificial que se multiplica a nossa imagem e semelhança. E que imagem, que semelhança!

Por isso acho que, como no caso dos que procuram estímulos para mudar essa vibração, também preciso de ajuda para sair, por exemplo, das águas turvas da flotilha que tenta chegar a Gaza com alimentos e a ajuda médica para aliviar o sofrimento dos palestinos, reféns involuntários do governo de Israel, sob as ordens de Netanyahu.

Quando se trata de genocídio, volto à leitura de “Mila 18”, de Leon Uris. A história se passa no gueto de Varsóvia, sob o domínio alemão. Descreve o terrível cotidiano dos judeus na capital da Polônia ocupada.

Agora, os algozes são aqueles que foram vítimas no século passado, durante a Segunda Guerra Mundial. A diferença são os métodos, ainda mais cruéis, de extermínio.

Pra escrever preciso sair desse turbilhão de horrores que se multiplicam, sem tanta exposição e mídia, em outras partes do globo.

No meu pedaço o céu é o limite! Olhando pra ele sem nenhuma nuvem, me inspiro nas florezinhas amarelas na ponta do ipê meio raquítico, sem nenhuma folha, oscilando preguiçosas ao vento nesse início de primavera, suavemente lânguidas, animadas pelo balanço dos galhos. Sigo o movimento de uma das flores bailando solta, caindo na direção do rio. Não foi a brisa que a derrubou. Consigo ver um passarinho, inho,inhozinho brincando na galharia.

Aqui embaixo o som das águas do rio, meio seco devido a falta de chuvas, vem do resmungo preguicento do fluxo deslizando entre as pedras em seu leito. O sol não está mais a pino. Mesmo assim seu calor espanta a passarinhada que prefere descansar a sombra e só recomeçar a movimentação mais tarde.

Por uma questão de justiça climática esclareço que por mais abafado que seja o clima no meio do mundo não é nada comparável as temperaturas de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, (quente desde sempre no verão), e de Cuiabá, onde o que já era insalubre está ficando cada vez pior com a valiosa e insuperável colaboração, por exemplo, dos responsáveis pelas obras intermináveis do VLT/BRT.

Aí, mesmo sem querer cair novamente no redemoinho dos acontecimentos, me lembro do filme de Spike Lee, “Faça a coisa certa”, que narra os acontecimentos de um dia de calor insuportável no Harlem, em New York....

Mais um movimento no entorno! Graças a Deus, ele desvia o rumo da prosa antes que ela caia no buraco negro dos desastres climáticos. Aqueles que serão temas da COP 30. Claro que nela, o principal será as buscas por caminhos e soluções para mitigar a crise. O que se faz apontando e alertando sobre os problemas crescentes que exaurem o planeta.

Voltando às miudezas, essa nem tão miúda assim, o que me distrai é um dos vizinhos da Mata Atlântica. O lagarto teiú cruza a estrada de terra que liga o nada ao lugar nenhum aqui no meio do mundo. Ele me ignora solenemente passando pro terreno e se desviando do tapete de pitangas perpitolas que caíram da pitangueira com a ventania da manhã.

Elas estão merecendo uma varrida que só acontecerá quando os passarinhos e borboletas, animados pelo ciciar das cigarras, avisarem que a temperatura vai dar um refresco no cair do sol atrás do morro do outro lado do rio.

Terei pouco tempo para varrer o pitangal salpicado no deck e jogar uma água nas plantas. Das miudezas, que envolve uma conversinha com as plantinhas preferidas, parto para uma missão quase universal: torcer pelo meu Flamengo, que ocupa o primeiro lugar na tabela do brasileirão.

Enfim, apesar dos pesares, esse domingo ainda pode ser quase perfeito. Mas isso, como outros fatores da vida, não depende só de mim...

PS: Deu ruim. Depois de duas expulsões, o Mengão perdeu só de 1X0 para o Bahia. Agora, somos vice-líderes do campeonato. Sorte que ainda faltam 11 rodadas para o final do torneio!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

26 de set. de 2025

Ainda os créditos - crônica de Valéria del Cueto

Ainda os créditos

Texto e foto  Valéria del Cueto

Só acaba quando termina. Para que, depois, seja possível à produção fechar os créditos finais. Aqueles que mencionei no último texto. Os dos filmes e, também, de quem participou do julgamento do ex-presidente e mais outros 6 integrantes do Núcleo 1, no STF.  

Tenha a quase certeza de que após a finalização da lista na pós-produção haverá a possibilidade de faltar algum nome na relação de colaboradores.

Seja por esquecimento involuntário ou até mesmo proposital. Afinal, nada é perfeito no mundo, nem a relação dos participantes de um trabalho coletivo. Ela pode ser quase generativa, interminável.

Não dá para medir esforços na busca de informações e reconhecimento para a posteridade de todos os técnicos, atores e colaboradores, sejam pessoas físicas ou jurídicas que participam da realização de uma obra idealizada por alguns e construída por muitos, no caso de obras artísticas. Já em outros casos, pode ser o inverso.  Sonhada por muitos, mas concretizada por poucos.

A não ser que...

O poder de contar a história esteja nas mãos de um único componente, cabendo a ele todos os papéis da iniciativa.

O povo, na sua sabedoria popular, diz que esse tipo de empreendedor é um autêntico representante do “bloco do eu sozinho”.

Foi o que o mundo assistiu na abertura da Assembleia Geral da ONU, em New York, horas antes do raiar da primavera, na tarde do dia 22 de setembro.

Primeiro, se manifestou o autor de uma obra coletiva. O presidente Lula, em sua fala ao abrir os trabalhos do encontro de quase duzentos países, defendeu a multiplicidade de ideias, no esforço coletivo. Em relações baseadas no diálogo e objetivos comuns à maioria dos membros.

Sublinhou as ações urgentes no que diz respeito ao fim dos conflitos mundiais e a preservação do planeta, alertando às graves consequências das mudanças climáticas.

Seu pronunciamento foi feito no tempo aproximado de 15 minutos solicitado pelos organizadores do encontro dos líderes mundiais.

Em vários momentos foi aplaudido pelos participantes, como no apelo pelo fim da guerra genocida em Gaza, no pedido do fim do embargo a Cuba, no alerta sobre as agressões ao planeta, a crise do clima e ao conclamar os países a fortalecerem a própria ONU.

Em seus créditos pessoais fez questão de lembrar de José Mujica, ex-presidente uruguaio e o Papa Francisco, ambos defensores da paz e promotores da igualdade entre os povos.

Que contraste com o orador que o seguiu na tribuna, autêntico representante do bloco do eu sozinho. Incapaz de ter a generosidade de delegar a terceiros a autoria de suas “realizações”, falou mal da organização do evento e da própria ONU já na abertura de seu discurso.

Nele, trouxe para si todos os “méritos” que considera relevantes nos feitos que agitam o conturbado cenário mundial, quase em colapso turbinado por sua atuação.

Como se, além de proprietário do campinho fosse, também, o dono da bola.

Respeito, que é bom, nem pelo tempo estipulado de fala.

Foi quase uma hora de uso do microfone, desconsiderando o protocolo estabelecido e os discretos alertas sobre o andamento da programação prevista.

Finalizou decretando que, no tempo de um anúncio de televisão, trinta e muitos segundos, algumas palavras e um abraço, concluiu que o presidente Lula é um “very nice man”, informando que haverá um encontro entre eles na próxima semana.

Mais uma vez, os créditos finais desse evento terão que ser reescritos. Dessa vez para incluir nos agradecimentos o nome do operador de teleprompter, o equipamento que o representante dos EUA reclamou ter falhado e provocou, inclusive, um pedido de formal de investigação à ONU assim como, também, a engasgada da escada rolante da sede da organização em sua gloriosa chegada.

Ah, o novo registro será de um integrante do entourage do próprio Donald Trump. A ONU esclareceu que o sistema era operado por um membro de sua selecionada equipe...

No mais, que venha a primavera e o aguardado encontro entre os presidentes.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

1 de set. de 2025

Os créditos finais

Foto: Valéria del Cueto. Imagem protegida pela lei 9610/1998

Os créditos finais

Texto e foto  Valéria del Cueto

Um dia, e sinto que será em breve, essa história vai virar filme. Daqueles de suspense, com toques psicológicos e referências hitchcockianas dirigido por alguém com o estilo, por exemplo, de Bruno Bini, cineasta mato-grossense que arrebentou o Festival de Gramado ganhando quatro Kikitos!

O roteiro da futura película cheio de meandros e detalhes nos obrigará a manter os olhos grudados na tela. A atenção ficará voltada aos diálogos e às sequências de onde, certamente, surgirão pistas que levarão ao clímax da obra com a elucidação do caso antes, se possível (o que nem sempre acontece), do take derradeiro e o começo dos créditos.

Estes, os créditos finais, não serão breves enquanto durarem. Virão longos, repletos de nomes conhecidos não apenas pelos técnicos e a chamada turma do cinema, a que costuma ficar na sala escura para saudar e aplaudir com o reconhecimento no olhar os ocupantes de cada função na execução do projeto cinematográfico.

Para quem não sabe (porque só vê aquele monte de letrinhas subindo velozes num cantinho das telas das TVs dos streamings) por ali passa por seus olhos a ficha técnica do filme. Nela, aquela correria desenfreada, aparecem informações que revelam ao público por quem, como, quando e onde foi realizada a obra que assistimos.

Se a informação é democrática no conteúdo, o mesmo não se aplica a forma. Existem nomes que aparecem em cartelas únicas. Isso é definido, inclusive, em contratos entre profissionais, empresas e os responsáveis por levar o produto audiovisual às telas. Patrocinadores produtores, diretores e os cargos mais importantes da equipe técnica merecem mais destaque. Assim como os atores principais. Para o restante do elenco pode ser usada uma lista em ordem alfabética ou de aparição.

Na sequência vem a equipe técnica engatada, talvez, num carrossel em que os nomes vão desfilando pela tela divididos por setores e funções. Da criação à finalização, passando pelo desenvolvimento do projeto, a produção, execução, pós produção, distribuição...

Quem participou do filme tem seu nome ali registrado. Do mais importante figurão ao mais humilde trabalhador e as empresas que prestaram serviços. É pouco? Não. Ainda faltam os agradecimentos a todos os que, de uma maneira ou de outra, colaboraram, apoiaram e de alguma forma, incentivaram sua realização.

No cinema, sou daquelas que fica até o fim dos créditos. Espero as luzes acenderem e a tela apagar. Sei que ali estão informações importantes e surpresas que aumentam ainda mais o prazer que a obra cinematográfica me proporciona.

Sempre foi assim. Pensa, por exemplo, no prazer de procurar o nome do meu pai em filmes como “Janete” de Chico Botelho; “Avaeté semente da vingança”, de Zelito Viana; “Memórias do Cárcere” e “Estrada da Vida”, de Nelson Pereira dos Santos... Cito apenas obras do início de sua carreira quando o coronel foi para a reserva do Exército e pode, finalmente, cair dentro do mundo das artes oficialmente. Sei que ele vai dizer que não foi bem desse jeito, mas é como me lembro de criança.

Na memória cinematográfica familiar adolescente também surge o filme de Geraldo Miranda “Um brasileiro chamado Rosaflor”, com Joana Fomm e Stepan Nercessian, em que Lucia, minha mãe, fez a cenografia, e passa por uma incrível viagem de prospecção sobre a Retirada da Laguna, com Nelson Pereira dos Santos e uma equipe cinematográfica, por Mato Grosso (ainda uno) e pelo Paraguai.

Esses créditos não vi nos filmes, porque o projeto da Guerra do Paraguai nunca foi em frente e não se tem notícias do filme de Geraldo. Se existe uma cópia nem desconfio qual é o seu paradeiro. Achei a informação da equipe técnica na Cinemateca Brasileira.

Se hoje fazer cinema é um sonho realizável de muitos, na época, década de 1970, era maluquice quixotesca de poucos. Cresci no meio dessas viagens cinematográficas. Por isso, os créditos, para mim, são um filme dentro do filme. Nele me reconheço por afinidade.

E é por ela, a afinidade, que nos vejo na imensa lista de nomes que finalizará o filme do julgamento que paralisa o Brasil agora em setembro. Não é preciso ser vidente, nem estatístico de instituto de pesquisa, para afirmar que sua audiência será maior do que a dos capítulos da morte de Odete Roitman da novela Vale Tudo, a original.

Nesse futuro sucesso do cinema nacional, seja como personagem, técnico cinematográfico, ou nos agradecimentos deveriam constar, nas cartelas de encerramento, os nomes de cada brasileiro que participam ativamente da vida em sociedade de nossa nação.

Uma sugestão pra você, leitor que me segue no rumo do Sem Fim: espere os créditos finais e os acompanhe atentamente para, então, aplaudir de pé o filme “Brasil 2025, o julgamento”.

Ele começou a ser produzido há alguns anos e todos fazemos parte dessa equipe. Afinal, certamente, somos peças atuantes no tabuleiro do jogo registrado nessa aventura desde que depositamos os votos, deixando nossas escolhas registradas, nas urnas espalhadas por todo o país nas eleições presidenciais de 2022...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com




 

Studio na Colab55

19 de ago. de 2025

Não fui eu

Não fui eu

Texto e foto  Valéria del Cueto

Ando correndo de problemas. Mas, parece, eles correm atrás de mim! Não só da minha humilde pessoa. De todos que tentam olhar o mundo com uma certa sensatez. Quando posso, desvio dos embates. Pelo menos, dos pequenos.

Usando as armas do arsenal valeriano: a caneta e um caderninho (novo!!!), me encarapitei na rede da varanda pronta para desenrolar mais uma crônica no meio do mundo. Eis que escuto o som do motor do cortador de grama... Como é domingo, dia de jogo do Mengão contra o Inter, estou determinada a não entrar em demanda e guardar as energias pra partida de logo mais.

Solução? Seguir o conselho do velho ditado “os incomodados que se mudem” e levantar acampamento em direção da cascata que jorra água na piscina vazia, do outro lado da casa. Que receba o primeiro respingo quem se arrisca a um mergulho nessa friaca. No máximo, uma ducha assustada e rapidinha no veranico que se aproxima.

O barulho da água batendo no cimento e escorrendo em direção ao ralo aberto abafa o som do motor da roçadeira. De lambuja fica no ar o cheiro da grama recém aparada do outro lado do rio que invade a atmosfera e quase me desvia do objetivo inicial do texto: os problemas meus, seus e nossos. Aqueles que não podemos solucionar nem, tampouco, ignorar.

Uns alheios a nossa realidade próxima como o genocídio incontrolável na Palestina, os conflitos na África, Asia e Europa, pra começar.

Outros aqui, embaixo dos nossos narizes, provocados por atitudes voluntárias e com sérias consequências. Como enfrenta-las? Em que momento devemos apenas observar, se omitir ou agir?

Que a maré não está para peixe, os ânimos pra lá de exaltados e os acontecimentos se sucedendo sem previsão ou controle de danos, é evidente.

Todos os estímulos nos levam a excessos. Comprar mais, postar mais, se expor mais... mesmo quando não temos nada a acrescentar. Simplesmente para mantermos o “engajamento”. E tem os cortes!

Então, o mundo fica atolado num lamaçal de tolices que camuflam e diluem o que é, realmente, essencial e digno de ser notado, devidamente registrado e, se possível, solucionado.

Se possível porque algumas ações são, a princípio, incorrigíveis.

Um exemplo que assombra e assolará a população cuiabana por um tempo é a eleição do atual prefeito.

Ao escolhe-lo fizeram um bem enorme à Câmara dos Deputados, apesar de sua função a frente da prefeitura de Cuiabá não ter garantido sua ausência total no cenário federal. Ele esteve presente, por exemplo, pra se solidarizar no deplorável episódio da tomada da mesa diretora e do plenário que visava impedir - e chantagear – o ordenamento da pauta dos trabalhos da casa.

O que não é bom para o Brasil não tem sido proveitoso a Cuiabá. A capital de Mato Grosso pagará caro por sua escolha. Seus habitantes sofrerão por alguns anos os reflexos do resultado das urnas eleitorais.

Todos, todas e todes são testemunhas e vítimas do equívoco do jeito de governar adotado pelo atual mandatário. Foi em frente a prefeitura que ele passou mais um recibo do desempenho de sua gestão, vital para o cotidiano da cidade.

Ao apagar as palavras artisticamente escritas num tapume mandou, mais uma vez, a liberdade de expressão (defendida ferozmente como um mantra por sua corrente política) às favas e confundiu a arte popular do grafite com a contravenção da pichação.

Como jurei desviar de problemas, não farei um registro do conjunto da obra que se desenvolve pros lados do Palácio Alencastro.

Foi a maioria do eleitorado da antiga Cidade Verde que decidiu seu destino até 2029! Nas próximas eleições que as escolhas sejam melhores, cuiabanos. Mais cuidadosas para com a urbe que os abriga.

Pra ilustrar a crônica, agora sim, uma piXação (essa, com X) que viralizou nos muros, paredes e tapumes há um tempinho aqui no Rio com uma mensagem sem distinção de gênero.

Sabe o que ela dizia? “NÃO FUI EU”.

E tenho dito...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55